quarta-feira, 30 de maio de 2007

01. Sangue e Borboletas : O Prenúncio de minha Morte.

Era uma noite fria de março, lembro-me muito bem. Ela deixou-me uma mensagem no celular.
Há dois meses atrás, fui contratado por uma bela mulher que apresentou-se sob o nome Amanda Trulleski. Nosso encontro se deu em um elegante, porém misterioso bar, o Curitiba Strings. Tratava-se de um lugar afastado da cidade, em algum beco escuro próximo ao Largo da Ordem, um bairro histórico e distinto de Curitiba. Era um lugar pequeno, e imaginei que não coubessem mais do que 300 pessoas ali. Foi razoavelmente difícil encontrá-lo, mas enfim o esforço valeu a pena.

Tratava-se de um elegante barzinho alternativo, algo mais para um pub londrino do que para um "lounge/bar" como o local se denominava. O balcão era rústico, feito de algum tipo de mármore negro. O chão era composto por pastilhas da mesma cor, e as paredes eram brancas. As banquetas eram de um vermelho fosforecente, e as mesinhas eram como as dos cafés europeus, pequenas, redondas e feitas de um mosaico de pastilhas. Duas coisas me chamaram a atenção no lugar: os clientes e a decoração. Esses vestiam-se elegantemente, como se estivessem em um evento da alta sociedade, e bebiam alegremente um drink rubro em taças do cristal mais fino enquanto conversavam. Imaginei que fosse vinho, ou bloodymary. A decoração era por demais macabra: nas paredes do bar, haviam grandes painéis em sépia apresentando cenas surreais: um violinista com a metade inferior do corpo decepada, exceto a vértebra, tocando violino como se estivesse vivo e concentrado em sua melodia; no outro, um jardim botânico permeado por um roseiral morto e espinhento, onde apenas suas rosas floresciam rubras; e no último, uma bela mulher de aspecto aristocrático e triste em frente a um espelho no qual sua imagem não aparecia, apenas suas roupas.Na hora, imaginei se o artista não fosse demasiadamente vanguardista ou sádico, ou coisa pior... enfim, o local todo era um jogo de vermelho, branco, preto e marrom.

Enfim, encontrei Amanda. Uma belíssima mulher de olhos e cabelos negros, em contraste com sua pele perfeitamente pálida e angelical, que parecia brilhar com o vestido azul-marinho que trajava.

Ela revelou-se como a filha de um renomado biólogo, e seguiria os passos de seu pai. Aventurou-se com ele na infância por diversos países, em busca de espécies raras de borboletas.Amanda queria que eu criasse um álbum fotográfico para registrar a coleção que havia herdado de seu pai.

No entanto, não havia um tom saudosista ou emotivo em suas palavras... havia algo de malicioso, cruel em suas feições.
Ela exibia um sorriso sutil... predatório.Não tive como reagir. Em metade de um instante, ela estava com seus belos lábios em meu pescoço... mas não era como um beijo, era uma tentação proibida, profana.Fiquei em êxtase. Depois, uma sede esmagadora tomou conta de mim. Uma sede...de sangue!

Não resisti ao ocorrido. Logo depois,desmaiei. Mas não foi um sonho. Sei disso. Acordei na cama do meu pequeno apartamento, no pôr-do-sol do dia seguinte.

Amanda, ou qualquer que seja o nome da minha amante, me abandonou. Não sei o paradeiro dela, nem porque me tornou nisto.

Meu corpo está preservado para sempre, e vivo como um fotógrafo de 26 anos viveria... com algumas exceções. Meu corpo e minha alma estão marmorizados, estagnados, como uma borboleta conservada no vidro.

E, tais como as borboletas das selvas inexploradas, agora uma enorme cidade infestada de seres noturnos espera para ser revelada por meus olhos e minhas lentes...

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito foda seu blog... está de parabéns mesmo.

Vc sabe prender a atenção... muito demais o suspense.

torço pra que o Pietro encontre a Amanda, continue escrevendo.

flw

Anônimo disse...

um bom começo, vc mantem msm um clima do requiem.

mas desenvolva a historia, de q clan eh o Pietro?

bjo! =*

Anônimo disse...

Muito boa a analogia com borboletas... achei que foi muito rápido do encontro ao abraço, mas percebe-se que foi proposital... no entanto, senti falta da descrição da dor e angústia da morte do corpo...

poderia ter sido mais sinistro...

de qq forma o texto está excelente...

parabéns!!!

ps. usar um tom de cinza mais claro facilita a leitura...